sexta-feira, 11 de abril de 2014

Daytripper

 
   Em Daytripper a questão da vida é abordada como é abordada em tantas grandes obras literárias, mas aqui ela carrega dois pontos especiais: o primeiro, traz um sentimento caseiro, brasileiro, uma forma única de se contar uma história para todos nós, feita por quem é daqui; e dois, por ser uma história em quadrinhos, e transmitir o silencio e as emoções, que só o desenho tem a capacidade de fazer.
a arte é completamente adequada, cada traço, cada linha não reta, a história chega aos seus grandes momentos, em trechos de silencio, onde não há diálogos, é aquele momento em que tudo para, vem o silencio do desenho, e você pensa e sente.
 
   Brás de Oliva Domingos é um "milagrinho", como sua mãe
 dizia, por nascer numa noite de blecaute, e logo em seguida trazer a luz de volta a cidade. ele brilharia, dizia a mãe. O Brás adulto tenta se tornar seu próprio milagre, em meio a obituários que ele escreve, tenta definir a vida mais do que uma lista de desconhecidos, ele quer mais, quer seguir os passos do pai, um escritor de sucesso, e dar para si mesmo o sentimento de que está no lugar certo, de que viveu como se deveria ter vivido. mas enquanto ele não descobre isso, a HQ nos mostra como a morte poderia ter o visitado, em cada maneira diferente, em cada lugar... seja correndo em busca de seu amor a primeira vista; seja valorizando a amizade; seja envelhecendo, como tantos outros por aí.
Esse aspecto da narrativa é o mais interessante de tudo em Daytripper, o fato de que
qualquer um desses destinos seria plausível, seria conclusivo e seria belo. é fácil escrever sobre a morte, Brás diz, mas muito mais difícil escrever sobre como é a
vida. ainda assim as duas andam de mãos dadas o tempo todo e uma não existe sem a outra.
   Fábio Moon e Gabriel Bá, são meus autores preferidos em se tratando de histórias humanas, e lembram bem a sensibilidade que Will Eisner ( nome que gerou o maior premio dos quadrinhos, dos quais os brasileiros ganharam varias vezes) tanto presava em suas páginas.
Para a alegria de Brás ele se encontra, encontra sua alma de escritor, se encontra. e ele, ao fim dos seus dias, também deseja que você consiga também. 

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